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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Coisas que só o coração pode entender

























Você sabe que sou difícil de me apegar às coisas, muito mesmo, e isso não é por querer ou fazer charme. É assim e ponto.
Te falava isso nas conversas onde, mesmo sem me responder, eu sabia que tava entendendo. Sabia também que no
seu caso foi totalmente diferente e nos quisemos bem assim, logo de cara.

"Nossa vó, você lembra como ela era quando chegou, um pontinho preto serelepe. Olha o tamanhão dela agora, caramba" - era o que eu dizia sempre sentada na cadeira na lavanderia.
Foi impressionante porque, num dia te pegava no colo e ficava assoprando seu nariz pra você comer o ar - sempre me acharam extremamente idiota por fazer isso, mas era MUITO engraçado te ver mordendo o mundo -, aí pisquei e tava lá você quase me derrubando quando pulava em mim pra me dar um abraço.
Abraço esse que era uma das primeiras coisas que eu queria sentir ao chegar em Mineiros, porque era uma delícia. Você, enorme, babando no meu queixo e não se aguentando de tanto balançar o rabo.

Uma das coisas mais marcantes, que relembrei com a vó no telefone esses dias, foi naquela manhã de 2007 que eu tinha varado a noite e estava lá no banquinho da esquina de casa com o que até então era um ficante, que acabou evoluindo pra namoro. Ninguém de casa sabia da gente, até que você fez o favor de contar à todos, disparando do portão da vó e indo até nós, pulando sem pedir licença no colo do cara e lambendo minha cara. Acho que uns dias depois começamos a namorar.

Dos risos caninos - né, sou cheia de ler o sorriso dos outros - o seu foi o mais sincero que já vi; os olhos, sei lá, às vezes dava medo porque pareciam penetrar na alma e sim, a gente se entendia.
E da última vez que estive em Mineiros, você me olhou muito, muito. E rimos. E perdi o tempo ficando no pilar e você em pé do outro lado esperando carinho. Eu dei, muito, e sentia aqueles malditos caroços que eu fazia questão de ignorar.
Naquele momento me passou pela cabeça o que podia acontecer, mas não aceitei. E você, sei lá, tava mais intensa, se é que é possível e me olhando de um jeito realmente mais profundo.
Foi a última vez que recebi aquele abração peludo que envolve a alma.

Na quinta a noite li o scrap da minha irmã e parei. Aí li novamente, dessa vez com mais dificuldade por causa das lágrimas que se acumularam. Sacrificar? Como isso? Pode não.
Naquele momento vi o tamanho do meu egoísmo. Eu só pensava que não, não podiam fazer isso e te queria presente quando voltasse pra Mineiros.
No comecinho da tarde de sexta, estudando pra maldita prova de América a noite, chegou o "vai ser difícil falar isso pra você Fran" e desabei, lá no meio da América espanhola, de Potosi e suas riquezas que não me importavam mais.
Foi esquisito. Estranho. Me deu raiva. E foi muito, muito ruim. Porque doía bem lá no fundo.

Tá fazendo quase uma semana.
Realmente não gosto de imaginar como será quando eu voltar pra Mineiros e não encontrar a minha companheira de bobeiras, das pequenas alegrias que fazem um bem danado pra alma e deixam o mundo mais fácil de encarar.
Tô sem você pra me levar passear; pra me esperar na porta do banheiro enquanto tô no banho; pra sujar minha roupa quando tô pronta pra sair; pra ficar no murinho enfiando a cabeça embaixo do meu braço; pra sair correndo feito louca na grama do quintal de casa e depois sentar na escadinha comigo.

Se minha mãe tivesse visto como fiquei, diria que era exagero da minha parte. E acho que muitas pessoas fariam o mesmo.
Dane-se, porque não acho exagero gostar tanto de uma coisa que faz tão bem pra gente, que fez tão bem pra mim.
Baby, junta várias bolas aí onde você tá, que quando eu chegar a gente sai pra brincar pelo gramado, sua louca.






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