Páginas

terça-feira, 12 de outubro de 2010

1.3

"Até parece que você me conheceu esses dias pra me fazer um convite desses, Rita. Você sabe que não gosto desse tipo de música, de lugar."

"Quantas vezes você já foi em algum?"

"Tá, nunca fui, mas sei que não gosto. É tipo brócolis, nunca comi mas sei que não gosto."

"Mania de julgar sem conhecer, e depois vem com todo um discurso moralista, sem preconceito e tal."

"Claro que conheço, já ouvi por aí. E é óbvio que a questão não é preconceito, até porque não tenho nada contra, nem subestimo quem gosta. Tô falando que eu, Monalisa Soares de Castro, não gosto desse gênero musical e não me sentiria a vontade em um lugar que tocasse esse tipo de música. Seria lindo ter como companhia uma cara mais fechada que tempestade de verão, né? Desculpa Rita, mas não rola."

"Mas essa cara de tempestade de verão tô enfrentando todo dia, porque até parece que você casou com essa semana chuvosa. Poxa, você não tá saindo, fica enfiada nesse mundaréu de páginas, vai pra faculdade e só. Faz tempo que não ouço uma gargalhada digna de Mona, que você vivia distribuindo por aí. E mais, lá sempre tem gente bonita. Vai que você encontra alguém pra depositar seus encantos e suspiros."

"Você quer me arrancar sorrisos e que eu suspire por alguém num lugar que é meu oposto? Comassim, dona Rita?"

"Até agora você só frequentou lugares 'com sua carinha' e tá como tá. Desde que você veio pra cá, e olha que já fazem três anos, me diz por quantos caras você ficou com cara de boba por mais de uma semana?"

Mona até chegou a abrir a boca, mas ela permaneceu aberta sem soltar nenhum ruído. E constatou com sua memória que a insinuação de Rita era inteiramente verdadeira. Mona se mudara de mala, cuia e desejos para outro estado, esperando cursar Relações Internacionais e buscar novas coisas para continuar construindo seu mundo. Deixou para trás pais, namorado, amizades bonitas e uma cidadezinha minúscula e grandiosa. Linda, Linda.
Desde então se apaixonou por tudo, por todos e mais ainda pelo mundo. Nesse amontoado de paixões, foram vários beijos, abraços, luz neon de apartamentos e quartos, "bom dia" e nunca mais. Poucas mãos dadas, confissões trocadas, mensagem na madrugada, passeios a tarde e carinho lido nos olhos e no sorriso. Nenhum balanço no coração, sono perdido, ciúme guardado e mundo-cor-de-rosa-de-gente-apaixonada. Na sua retrospectiva, nenhum ser do sexo oposto realmente interessante cruzara seu caminho - interessante em suas próprias definições, que não são nada simples.

"É, nisso tenho que concordar com você. Acho que nem meio."

"Pois bem, um lugar no carro já tá reservado pra sexta."

"Não disse que ia pra algum lugar ainda."

"Deixa eu guiar um pouco tua vida, querida, que nisso tenho um pouco mais de experiência que você."

___________________________


"Quê foi?"

"Mano, sua vida começa que horas hein?"

"Que você quer, porra?"

"Descolei um freela pra você pra uma coluna de uma mina aí que tô querendo pegar. Sexta, lá pelas dez da noite. É um lugarzinho que tá começando a ser badalado e tão querendo umas fotos bacanas pra montar uma boa imagem. A cerveja tá liberada."

"Pagam só com cerveja?"

"Não, acho que cem reais, isso você tem que acertar ainda. Seu nome já tá confirmado e nem vem com desculpa pro meu lado."

"Beleza cara, tô duro mesmo e vai ser uma desculpa pra não ver a Carol. Ah cara, a foda tá ficando foda. Passa o endereço aí."

"É lá na Curitiba, esquina com a João Menezes. Aquele prédio novo verde."

"Ah, tô ligado. Merdinha de lugar, hein?! Falo Betão, valeu."


Um comentário:

  1. Oi Fraan, obrigado pela visita no blog. Ei, acho que deve ter dado algum probleminha, voc ainda não esta seguindo o blog. Segue la linda..

    http://galeriadephotoos.blogspot.com/

    Beijos !

    P.S.: Texto lindo, Parabéns ! Vou Volta mais vezes para acompanhar o seu trabalho..

    ResponderExcluir