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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Da pequena e grandiosa.

Era uma vez uma pequenina cidade de 11 mil habitantes que, apesar do tamanho, guardava grandes histórias.
Essas histórias eram construídas por sua população nada convencional, que sempre estavam em busca de coisas para quebrar o marasmo cotidiano; um povo realmente louco!
Duas pessoas merecem um certo destaque nessa história, um casal que faz juz à essa definição que acabei de dar ao povo local.
Eram dois adolescentes de turmas diferentes. Ele lá, ela cá. Os dois nunca haviam se falado, a não ser quando ela foi vender seu convite de um show pra ele que, na ocasião era apenas um amigo de seu atual namorado.
O namoro acabou, e os dois, baladeiros como ninguém, aproximaram-se para poder pagar meia na entrada da boate.
No decorrer do tempo, além dos agitos noturnos, eles foram percebendo que haviam uma intimidade que não dependia de quanto tempo se conheciam, ela existiu desde o primeiro momento que se falaram (e brigaram) naquele telefonema do convite.
O tempo foi passando, as turmas foram se juntando e eles foram ficando cada vez mais próximos e ligados. Conversavam todos os dias, ficavam sempre e brigavam idem (bringas regadas de brincadeiras, se é possível entender).
Tamanho era o prazer que ambos tinham em ficar juntos que, depois de mais uma balada, ele finalmente a pediu em namoro, debaixo de uma noite congelante na esquina de sua casa. Foi uma coisa pura, com palavras e sentimentos sinceros. Ela disse sim, sentindo que não existiria ningué mais feliz que ela naquela noite!
O adjetivo perfeito para definir esse namoro é engraçado e a palavra de ordem, diversão.
O relacionamento dos dois sempre foi levado na base da confiança e sinceridade, e não haviam motivos para qualquer tipo de desconfiança ou brigas feias. Com o tempo foram aparecendo obstáculos, diferenças, opiniões opostas, mas apesar das imperfeições dos dois, um era perfeito para o outro.
Quando começaram a namorar ela estava no segundo ano e, quando passou para o terceiro, começou a se preocupar com o futuro e, como é de se esperar, a se preparar para o vestibular.
Cheia de dúvidas quanto ao curso, acabou se decidindo por História e foi não muito confiante fazer a prova mais temida dos estudantes.
Para surpresa de todos ela passou na primeira fase e, para preocupação dos mesmos, passou na segunda.
Misturado com sua felicidade de dever cumprido por passar na primeira tentativa numa universidade estadual, veio a questão: o que fazer?
De um lado ela não tinha certeza se era aquilo mesmo que ela queria, do outro sentia que não podia deixar passar tamanha oportunidade; de uma lado era sua vida naquela cidade, do outro seu futuro; e no meio de tudo: seu amor.
Durante muitas noites ela pensou e pensou, então seu lado racional falou mais alto como sempre e ela se decidiu encarar essa nova e decisiva fase de sua vida. Ela tinha certeza que se não o fizesse arrependeria-se profunda e amargamente.
Conforme ela ia se preparando para ir embora, não podia deixar de sentir um aperto inexplicável lá no fundo da alma, um nó na garganta que ela sabia que ia demorar para desatar.
Eles continuaram levando, apaixonados como sempre, o namoro perfeito de pessoas imperfeitas; quanto mais se aproximava o dia dela ir embora, mais pareciam apaixonados e impossível de viverem separados. Pensaram em terminar algumas vezes, mas seria impossível viverem juntos separados.
Na véspera de sua partida, tudo tinha um gosto de última vez: última vez que circula pela cidade, última noite no colchão, último churrasco com a turma, última vez que sobe na casa dele, último aperto na cama apertada.
Naquela noite tentaram agir normalmente, assistiram algum filme como de costume, ficaram juntos até que ela disse: 'amor, preciso desce'.
Chegou então o momento evitado desde sempre.
Assim como o pedido de namoro, ese foi um momento de palavras totalmente sinceras, vindas do mais profundo canto da alma. Foram declarações, confissões .. os dois, na cama de solteiro dele, fizeram a retrospectiva dos anos mais apaixonados de suas vidas, reviveram coisas que talvez ninguém tenha o prazer de viver em 80 anos de vida .
Naquele momento eles sabiam que, mesmo tendo decidido continuarem namorando, estavam terminando uma etapa importantíssima na vida de ambos, que o que viveram seria guardado num lugar impossível de se apagar e que, daqui pra frente, mesmo apaixonados, seriam pessoas com caminhos diferentes, sem saberem se algum dia eles voltariam a se cruzar.
O namoro durou mais um mês, na primeira vez que ela voltou os dois sabiam que nao seria possível levar um namoro daquele jeito e fizeram o óbvio: terminaram. Foi como sempre imaginaram, sem rancor, brigas .. desde o começo sabiam que o fim seria assim, que terminariam se amando.
Hoje os dois seguem sua vida. Ele arrumou uma outra pessoa; ela se delicia com os percursos da vida de solteira, dedicando-se plenamente aos estudos e sem ter tempo para o amor.
A história vivida pelos dois nunca será apagada nem esquecida. Ela é como um arquivo do computador: ela foi deletada e excluída da lixeira, mas continua em algum lugar no disco rígido, podendo ser resgatada a qualquer momento.

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