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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Uma Coisa


"Eu já estou cansado de descobrir as coisas e meus vinte e quatro anos representam a própria eternidade diante da vida. A fossa existencial é uma constante, e não há alternativa de fuga, pois os momentos são momentos e a felicidade - já está claro - não existe em tempo eterno!! Há um tempo para o peixe e um tempo para o pássaro, já disse o poeta baseado em dizeres de filósofos antigos, mas a verdade é a verdade e está colada à minha retina exausta. Há um momento feliz e um infeliz. A partir do instante em que a fase feliz entra em minha vida, eu já vivo à espera do próximo instante desagradável e fico imaginando como virá, oriundo de quê, da vida sim, mas sob que forma, enfim, uma série de imagens antes do fato em si. Aí permaneço no momento feliz tendo o conhecimento profundo de que este momento feliz não deve ser vivido com a felicidade que dele exala. Não há como um cérebro , que jamais deixa de examinar todos os instantes que advirão, posso deixar-se levar por um ínfimo instante de felicidade, quando os problemas não foram solucionados em suas bases. Aí eu penso: como viver o momento presente se o futuro não me deixa seguir sossegado? Bem que eu gostaria de não saber de nada, de não entender as coisas tão profundamente ao ponto de fazer uma energia nociva ao meu mundo já agitado por si só! Mas, na verdade, eu gosto de saber das coisas por antecipação, mas este saber antecipado me cansa, me deixa prostrado diante das portas fechadas que eu já sabia que não iriam se abrir pra mim!! Minha existência caminha muitos anos à frente do meu corpo, e é justamente meu corpo frágil, magro, esquálido e desprovido de reservas de energia que tem que suportar as demandas da mente atribulada, terrivelmente neurotizada pela civilização.

Tudo me cansa: as revelações da vida, a vida, a presença constante da morte nos meus calcanhares, nos meus ouvidos, a ausência de uma estrutura posta sobre ou sob os arcos, aros, erros... saco tudo isso!!fazer poema é um saco; música outro saco, porque poemas e músicas eu tenho que fazer para os outros e nunca no momento exato!!!


Saco, sacola, guardanapo; quero o trivial porque o que eu quero mesmo é uma terceira mundial e já passou das dez e o coração se fechou e na cozinha, de boca aberta, fico esperando o assunto emocionante da revista que não veio".



Esse texto é de uma sinceridade incrível. Pelo menos foi essa minha sensação enquanto o lia. Talvez seja porque é do Raul, e pra mim ele exala sinceridade.
Sabe que não sei explicar o porquê disso, até porque gosto, mas não sou fã dele e nem conheço a fundo seu trabalho e sua história.

Mas taí, achei válido postar isso aqui, porque mensagens sinceras nunca são demais.



*aah, encontrei o texto aqui.

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