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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

1.2

Constatou que o sol resolvera tirar férias, e esperava que fossem breves porque o cinza já não era bem-vindo aos seus cumprimentos matinais.

Uma semana com a mesma cor - ou falta dela -, de moletom sem graça e cabelo preso sem vida.

Uma semana de biblioteca meio sonolenta, pouca coisa pra catalogar e quase nenhum livro novo com cheiro de tempo chegando. Aah como adorava páginas amareladas que riam da velhice - "Não sei que graça você vê em mergulhar nessa coisarada velha com cheiro de mofo, Mona. Procura coisa nova vai menina". " Vê só Rita, é isso aqui que me renova".

Uma semana de uma certa boca rosada casada com um par de olhos verdes feito grama pós chuva, que subia um ponto depois e descia sabe-se lá onde.

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Merda de chuva que insistia em continuar a encher o saco. Como se já não bastasse o TCC para exercer o papel de desagradável.
Por sua culpa já não tinha tempo pra tocar e nem cabeça pra compor alguma coisa.

Carol também tava de lado - "esquisito ela ainda não ter dado uma de histérica e carente essa semana".
Taí, Carolina é uma menina bem difícil de esquecer. E de entender.
Não sabia muito bem o sentimento envolvido naquilo tudo que não conseguia - e nem queria - definir. A única coisa que tinham em comum era a primeira letra do nome - Carolina e Caetano não combina muito -, do resto não se aproximavam em nada. Talvez fosse comodidade, afinal era uma puta ruiva de pele branca olhos castanhos clarinhos e sardas e cabelo escorrido. Não era do tipo de se levar uma conversa com algum tipo de conteúdo, mas os momentos que passavam juntos rendiam risadas descompromissadas.
Para onde iriam? Lugar nenhum.
Disso ele tinha consciência; já ela estava muito ocupada no mundo de tendências-lançamentos-oqueninguémsabe. Mas era pra ele que ela ligava sempre que retornava da sua esfera fashionista.

Merda de chuva que obrigava a bicicleta a ficar dormindo e sempre correr pra pegar o ônibus.
Ônibus que toda manhã carregava uma morena de olhos intensos que pareciam ler o que estava na parede da alma, de tão profundos que eram.
Se cruzaram por acaso algumas vezes, e ele não conseguia imaginar o que embalava aquele ritmo discreto dos seus pés de all star.


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