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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

19 anos de olhos azuis

Sempre tive uma queda por olhos azuis.
Queda não, um tombo gigantesco mesmo.
Minha primeira paixonite tinha olhos azuis. Até hoje sou gamada num par de olhos azuis que vi no beco numa tarde qualquer de cerveja e conversa jogada fora com a Má. Eram lindos, MUITO azuis e de quebra o cara tinha uma boca bem ao estilo Francielle. Eu e minhas paixões platônicas que não vêm ao caso.

Isso é culpa do meu avô, pai do meu pai. Dono do primeiro par de olhos azuis que tive contato.
Lembro que quando eu era menininha dizia que iria me casar com ele, porque sempre gostei de gente educada, com aquela elegância natural, reservada e atenciosa.
E meu avô era tudo isso. Isso e muito, muito mais.
Sou muito parecida com meu pai, que tem uma enorme dificuldade em demonstrar sentimentos. E muito cabeça dura. E muito dono da verdade. Herdei tudo isso dele, batemos bastante de frente, mas mesmo assim rimos bastante juntos e, claro, tenho um amor imenso por ele, que nunca falei ou demonstrei diretamente.

Mas o fazia com meu avô.
Passávamos as tardes sentados na mureta da área ou na calçada falando de quem passava. Assistíamos Palmeiras x Corinthians xingando o Galvão e zuando da cara do outro (sou palmeirense e ele corinthiano). Ríamos da mania da minha avó de estar sempre limpando e preocupada com as coisas.
E era eu que ia pro banco conversar com o gerente. Ficar no pronto-socorro quando sua pressão nos dava um susto. Pagava as contas.

Ele foi a única pessoa que me incentivou a fazer jornalismo. Sempre perguntava: "por que você não estuda pra ser repórter, Fran?" "ah vô, eu até quero estudar isso, sim, mas não pra ficar aparecendo na tevê."
E tenho certeza que foi a pessoa que mais sofreu com minha vinda pra Londrina. E a que eu mais ficava aliviada em abraçar mais uma vez.

Sei lá, tínhamos uma ligação muito forte.
Tão forte que quando recebi o telefonema com aquela notícia achei que fosse uma brincadeira de mau gosto da minha irmã e voltei a arrumar o quarto. Foi na terceira que a ficha começou a cair e sentei no chão com a foto dele na mão.
Ela caiu de vez só quando cheguei em Mineiros e vi que não teria mais o alívio de abraçá-lo por mais uma vez.
Nem que nunca mais teria o meu primeiro par de olhos azuis olhando pra mim e querendo dizer: "nunca me esqueça, por favor".
Pode deixar vô, que seus olhos ainda estão na minha alma e o carinho que você me deu nesses 19 anos sempre estarão no meu coração.


"Gosto de pensar que quem já morreu fica num lugar quentinho, que a gente não vê, cuidando de quem ainda não morreu.
E se você quiser agradar a essa pessoa, é só fazer coisas que ela gostava. Aí ela fica
ainda mais quentinha e cuida ainda melhor da gente.”
(brigada por me mandar Caio F., Jé!)

4 comentários:

  1. Que texto lindo, tenha ctz que seu avô ta em um lugar bonito sim, tão quanto os olhos azuis que ele tinha!!
    =**

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  2. FRan, não contive as lágrimas, tb tive uma história parecida só que era com minha vovó. O ceú azul brilha em nossa direção. Acho que são os olhos de quem olha por nós.
    Lindo!
    beijos
    adorei teu blog!!!

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  3. Muito bom, passei pois isso também, eu tinha forte com a minha vó, apesar de passar somente 9 anos da minha vida com ela. Quando o padrasto do meu pai me deu a noticia, eu não acreditei, a fixa só caiu quando vi meu pai chorar, foi a primeira e unica vez. Ele sempre foi muito na dele, mas amava minha vó acima de tudo e de todos. Minha vó sempre dizia que não queria lágrimas e que após sua morte ela queria uma grande festa de familia. Estranhamente na festa estávamos todos felizes, a final, ela provavelmente também estaria.

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  4. Ei Fran, sabe que amo como vc escreve né!?
    te mandei porque eu tava passando pela mesma coisa.. e me mandaram e foi bom...
    ei
    sabe que te amo né?
    conte comigo pra tudo Tii, estarei sempre aqui

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